10 Dicas de Roteiro, por Joss Whedon

10 Dicas de Roteiro, por Joss Whedon

Em 2006 Joss Whedon, – criador de Buffy, a Caçadora de Vampiros, DollHouse e Firefly, um seriado que durou apenas 1 temporada, mas que é muito amado até hoje – foi entrevistado para a finada revista britânica HotDog e nesta entrevista deu 10 dicas de roteiro.

10 Dicas de Roteiro, por Joss Whedon

Além de ser roteirista e diretor de sucesso, Joss Whedon também trabalhou como script doctor (uma pessoa contratada para reescrever ou polir um roteiro, trabalho que inclui melhorar a estrutura, caracterização, diálogo, ritmo, tema, etc) para Waterworld, Speed, Toy Story e X-Men. Abaixo ele compartilha suas 10 dicas de roteiro.

  1. Termine
    Na verdade, terminar é o que vou colocar como primeiro passo. Você pode rir, mas é verdade. Eu tenho muitos amigos que escreveram dois terços de um roteiro e depois o reescrevem por cerca de três anos. Terminar um roteiro é difícil, mas é realmente libertador. Mesmo que não seja perfeito, mesmo que você saiba que precisará editar, digite até o fim. Você precisa da sensação de encerramento.
  2. Estrutura
    Estrutura significa saber para onde você está indo, certificando-se de que não ficará dando voltas por aí. Alguns ótimos filmes foram feitos por pessoas que andam sem destino, como Terrence Malick e Robert Altman, mas hoje em dia não é tão bem feito e eu não recomendo. Eu sou um doido da estrutura. Eu faço gráficos. Onde estão as piadas? As emoções? O romance? Quem sabe o que e quando? Você precisa que essas coisas aconteçam nos momentos certos, e é assim que você constrói sua estrutura: a maneira como você deseja que seu público se sinta. Gráficos, canetas coloridas, tudo que ajude você a não ficar as cegas é útil.
  3. Tenha algo a dizer
    Isso deveria ser número um. Mesmo se você estiver escrevendo um clone do Die Hard, tenha algo a dizer. O número de filmes que não são sobre o que pretendem ser é impressionante. É raro encontrar um filme com uma ideia e que não seja apenas: “Isso levará a muitos caminhos”. The Island evoluiu para um filme de perseguição de carros, e os momentos de alegria são quando eles estão próximos e você se pergunta: ‘Como é ser esses caras?
  4. Todo mundo tem uma razão para viver
    Todo mundo tem uma perspectiva. Todo mundo em cena, incluindo o capanga que acompanha o cara mau, tem um motivo. Eles têm sua própria voz, sua própria identidade, sua própria história. Se um personagem fala de uma maneira que está apenas estabelecendo as falas do próximo personagem, você não tem um diálogo: você tem falação. Nem todo mundo tem que ser engraçado; nem todo mundo tem que ser fofo; nem todo mundo precisa ser encantador e nem todo mundo precisa falar, mas se você não sabe quem são todos e porque eles estão lá, porque estão sentindo o que estão sentindo e porque estão fazendo o que estão fazendo, então você está com problemas.
  5. Corte o que você ama
    Um truque que aprendi no início de carreira. Se algo não está funcionando, se você tem uma estória que construiu e está bloqueada e não consegue entender, pegue sua cena favorita ou sua melhor ideia e deixe-a de fora. É brutal, mas às vezes inevitável. Essa cena pode encontrar o caminho de volta, mas cortá-la geralmente é um exercício extremamente libertador.
  6. Ouça
    Quando fui contratado como médico de roteiro (script doctor), geralmente foi porque alguém não conseguiu passar para o próximo nível. É verdade que os escritores são substituídos quando os executivos não sabem mais o que fazer, e isso é terrível, mas o fato é que, na maioria dos roteiros em que trabalhei, fui necessário, independentemente se fui permitido fazer algo de bom ou não. Muitas vezes as pessoas ficam travadas, ossificadas, ficam tão bloqueadas que não conseguem ver as pessoas ao seu redor. É muito importante saber quando confiar no seu taco, mas também é muito importante ouvir absolutamente todo mundo. A pessoa mais estúpida da sala pode ter a melhor ideia.
  7. Acompanhe o humor da audiência
    Você tem um objetivo: conectar-se com seu público. Portanto, você deve acompanhar o que seu público está sentindo o tempo todo. Um dos maiores problemas que enfrento ao assistir filmes de outras pessoas é: “Esta parte me confunde”, e eles dirão: “O que estou tentando dizer é isso”, e continuarão em suas intenções. Nada disso tem a ver com a minha experiência como membro da audiência. Pense como o público pensa. Eles vão ao cinema e, ou percebem que suas nádegas estão dormentes, ou não. Se você está fazendo seu trabalho direito, eles não percebem. As pessoas pensam que as exibições testes dos estúdios são terríveis, e isso é porque muitos estúdios são bem estúpidos. Eles entram em pânico e re-filmam, ou dizem: ‘Nossa, Brasil não pode ter um final infeliz’, e essa é a história de horror. Mas isso pode fazer muito sentido.
  8. Escreva como um filme
    Escreva o filme o máximo que puder. Se algo é exuberante, você pode descrevê-lo assim; se algo não é tão importante, seja breve. Deixe a leitura parecer o filme; isso facilita o trabalho para você, para o diretor e para os executivos que dizem: ‘Como será isso quando o colocarmos de pé?’
  9. Não escute
    Depois de dar o conselho sobre ouvir, tenho que dar o conselho oposto, porque, em última análise o melhor trabalho ocorre quando alguém fode o sistema, faz o inesperado e deixa sua voz pessoal na máquina que é o cinema. Escolha suas batalhas. Você não teria Paul Thomas Anderson, Wes Anderson ou qualquer um desses caras se toda a produção fosse completamente certinha. Mas o processo leva você nessa direção; é um processo de homogeneização, e você precisa lutar um pouco. Houve um momento quando estávamos fazendo o Firefly que pedi aos studio para não renovar: eles estavam falando sobre uma série diferente.
  10. Não se venda
    O primeiro centavo que ganhei, economizei. Então eu me certifiquei de nunca ter que aceitar um emprego só porque precisava. Eu ainda precisava de empregos, é claro, mas consegui pegar aqueles que amava. Quando digo que isso inclui Waterworld, as pessoas coçam a cabeça, mas é uma ideia maravilhosa para um filme. Tudo pode ser bom. Até o Last Action Hero poderia ter sido bom. Existe uma idéia em quase todo filme: se você pode encontrar algo que ama, então pode fazê-lo. Se você não pode, não importa o quão habilidoso você é: isso se chama prostituição.

Para mais informações sobre Joss Whedon, visite o sua página no IMDB ou Wikipedia.

escrito por
Patricia