Já escrevi como criar seu personagem e torná-lo o mais real possível, mas recentemente vi um grupo no FB debatendo sobre vilão e antagonista e percebi que existe uma certa confusão com este assunto.

Então resolvi escrever sobre antagonistas antes de prosseguir para outros tópicos.
Afinal, quem é o antagonista?
O antagonista é o personagem que se opõem ao protagonista. O antagonista não precisa ser o vilão da estória, apenas a pessoa que esta no caminho e dificulta, por razões e motivações pessoais, a jornada do protagonista. Ele não precisa ser ruim, mas ele pode ser, e se for, ai temos o vilão.
Ou seja, o vilão é antagonista, mas nem todo antagonista precisa ser um vilão.
Por exemplo, Lord Voldemort de Harry Potter é o típico vilão, mas Sandor Clegane de As Crônicas de Gelo e Fogo é um antagonista que não é somente motivado por maldade.
A importância da Backstory
Claro que entre os seus personagens, é o protagonista que você deve desenvolver mais, já que ele vai comandar ao máximo a atenção do seus leitores. Mas isso não significa que você pode negligenciar o antagonista e suas motivações. Por isso, crie uma estória para seu antagonista.
No livro Rebecca, de Daphne du Maurier, a jovem protagonista (e nunca ficamos sabendo seu primeiro nome) se casa com o ricaço George Fortescue Maximilian “Maxim” de Winter, na cidade de Monte Carlo.
Quando Maxim leva sua jovem esposa para conhecer sua bela mansão Manderlay, esta jovem se depara com a memória da primeira esposa, Rebecca, que parece conviver entre eles, graças a sua fiel criada, Mrs. Danvers (a vilã), que não poupa esforços para convencer a segunda esposa que ela nunca estará a altura de Rebecca, e consequentemente, digna de Maxim.
Rebecca é uma antagonista: sua memória, sua perfeição, sua beleza, tudo que ela representa é um empecilho a felicidade da segunda esposa. Mas a verdadeira vilã é a criada, que ao trazer constantemente a memória da falecida e torná-la sempre presente, parece sentir um certo prazer maldoso em nocautear emocionalmente a segunda esposa.
[mks_pullquote align=”right” width=”300″ size=”24″ bg_color=”#3C277C” txt_color=”#ffffff”]Bons antagonistas geram conflito, conflito move a estória e mantém o leitor interessado.[/mks_pullquote]A presença de Rebecca é o grande empecilho a felicidade da segunda esposa e Maxim, o que gera conflito, conflito que move a estória e mantém os leitores grudados para saber o que vai acontecer.
Este livro foi tão bem escrito que ao terminar é Rebecca que você provavelmente vai carregar na memória, não a tímida segunda esposa sem nome.
Logo, é importante que você pense nas motivações que levaram o antagonista a se opor ao protagonista.
O motivo deve ser válido e fazer sentido para o público. Seus leitores não precisam concordar com os motivos, mas precisam entender: no exemplo acima, a vilã Mrs. Danvers acreditava piamente que ninguém poderia tomar o lugar de Rebecca na vida de Maxim ou ser a senhora de Manderlay, e diante a possibilidade disso vir a acontecer ela decidiu atormentar a vida da segunda esposa.
Outra dica é criar um antagonista forte. Seus leitores tem que acreditar que se trata de um opositor a altura, alguém que pode afetar ou até mesmo mudar o destino do seu protagonista.
Escrevi sobre isso quando falamos de enredo, e reafirmo aqui que é preciso que o antagonista esteja investido ao máximo na sua causa. Pense em como Harry Potter seria um livro diferente sem Lord Voldemort, por exemplo.
Mostre, não conte (show, don’t tell)
Não coloque outros personagens falando entre si como o antagonista é ruim. Mostre para o leitor como é este antagonista atráves de ações, por exemplo, mostre-o em uma situação onde ele esta contra o protagonista.
“Ah, mas meu antagonista é segredo, não posso contar até o final do livro, como faço?” Use capangas que vão agir como pau-mandado do antagonista, sabotando e prejudicando o protagonista até que aconteça a grande revelação.
Maior do que todos
O antagonista não precisa ser um humano: pode ser um tipo de governo, uma organização, um sistema social, um objeto ou até mesmo um conflito interior do próprio protagonista.
Pense no Capitólio de Jogos Vorazes, ou no sistema político da Republica de Gilead do Conto de Aia, por exemplo. Ou da culpa que Briony sentia em Reparação, para conflito interior. Ou no carro assassino Christine, de Stephen King.
Pode parecer mais difícil usar um antagonista deste calibre, por isso alguns autores preferem selecionar um personagem para personificar o sistema, como é o caso do Presidente Snow em Jogos Vorazes.
Mas não é preciso fazer isso. A luta conta o sistema pode gerar muita tensão e conflito mesmo sem uma personificação humana para representá-la.
E o mais importante de tudo, deixe o antagonista acontecer. Ás vezes durante o processo criativo os personagens se desenvolvem naturalmente. E lembre-se que bons personagens, sejam eles protagonistas ou antagonistas, não surpreendem apenas os leitores. Eles podem surpreender a autor também.