O Tema

O Tema

Tema foi durante muito tempo uma das áreas mais complicadas nos meus livros. Quando fui reler meus antigos contos e romances, percebi que eram apenas diálogos e personagens em situações variadas, sucessivamente, até a chegada da palavra Fim.

O Tema (Como escrever um Livro)

Na época eu não desconfiava que minha dificuldade em responder as pessoas sobre o que eram meus livros era porque eu mesma não sabia exatamente sobre do que se tratava.

Tema é o pensamento que o autor deseja passar para os leitores, aquilo que muitas vezes chamamos de moral da estória. Qual é esta “moral” (e aqui uso a palavra moral de maneira solta, e não no significado literal) fica totalmente a cargo do autor e do que ele esta tentando dizer.

Pense no tema como a cola que amarra toda estória, e que também vai dar ao leitor a sua opinião de como o mundo, ou como os seres humanos, funcionam. Seu tema não precisa ser altamente intelectual e/ou complicado, ele pode ser tão simples como “o crime não compensa” ou “o amor supera todas as dificuldades”.

Outra coisa importante é não confundir o tema com o tópico. O tópico serve de base para o texto, enquanto o tema é a opinião do autor sobre o tópico. Por exemplo, o tópico pode ser infidelidade e o tema pode ser que infidelidade arruina mais vidas do que somente a do casal envolvido.

Os exemplos abaixo vão te ajudar a entender melhor:

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
O tema aqui esta em camadas: a menor é sobre casamento, amor e amizades. A maior parece dizer que o caráter de um homem é mais importante que seu dinheiro ou aparência.

Guerra e paz, de Leon Tolstoy
A guerra e suas inúmeras ramificações.

O Grande Gatsby, de F. Scotty Fitzgerald
A corrupção do sonho americano.

Menina com brinco de pérola, de Tracy Chevalier
Um grande artista está disposto a sacrificar tudo pelo amor a sua arte.

A Firma, de John Grisham
Cuidado com o que você deseja.

Uma das coisas difíceis de entender sobre o tema, é que ele nem sempre esta claro logo de cara para o leitor. Em muitos livros é só depois de terminar que ficamos uma memória ou “sensação” do que lemos. É sutil, mas permanece: esse é geralmente o tema que nos tocou, a impressão que o autor deixou em nós.

Embora o tema seja a moral da estória que o escritor deseja passar, o escritor não precisa necessariamente resolver ou ter a solução para o tema que ele esta exibindo com seus personagens e enredo. Segundo Anton Chekhov, o escritor de ficção não precisa resolver o problema tanto quanto expô-lo de maneira correta.

Quando começo a pensar no tema?

Isso com certeza é algo pessoal. Sempre que penso em escrever uma estória, sei que desejo transmitir alguma coisa para o leitor, e muitas vezes não esta muito claro na minha cabeça exatamente o que, mas é só começar a escrever e aos poucos, conforme a estória toma forma, como os personagens interagem, quem são e o que os move, que o tema passa a ficar mais claro.

Ao final do primeiro rascunho ele pode estar “fraco”, e isso é natural, já que nosso trabalho como escritor é refinar e rescrever nosso texto até que ele esteja o melhor possível. Se o tema estiver fora de foco, use estas etapas de rescrever, que geralmente são muitas, tanto para reconhecer quanto para apurar.

Uma coisa muito importante é, depois de reconhecer e entender seu tema, evite força-lo aos leitores. A palavra chave aqui é sutileza. Você conhece sua estória, vai escrever e editá-la o melhor que puder em torno deste tema, mas não precisa de placas gigantes de neon explicando para o leitor “a infidelidade é ruim para todos envolvidos” (ainda usando o exemplo acima da infidelidade). Confie que o conjunto da sua obra vai deixar claro seu ponto para seus leitores.

Começo o livro já com o tema em mente?

Alguns escritores preferem deixar a estória fluir. Outros preferem mapear logo de início as partes importantes.

Se decidir começar a escrever já com o tema em mente, o importante é não limitar seus personagens e enredo, única e exclusivamente, a serviço deste tema. Se fizer isso, existe a possibilidade que o livro se torne cansativo e maçante. Lembre-se que o tema pode e deve ser sutil. Não é necessário martelar a moral da estória na cabeça dos leitores.

Minha estória não tem um tema, e agora?

Dependendo do que você esta escrevendo, seus leitores podem nem perceber que seu livro não tem um tema, e se perceberem, não se importarem. Existem aqueles que podem até atribuir ao seu texto um tema que não existe. E pode ter certeza que existem os leitores que vão achar que o livro é superficial porque não tem um tema. O famoso grupo que diz “é okay, mas não me diz nada”. Cabe a você decidir como lidar com isso.

O tema é uma parte natural daquilo que você for escrever. Sua estória se desenvolve a partir da suas idéias e vai refletir tanto a sua natureza, a suas observações sobre o mundo e a humanidade ao seu redor, e quem sabe até espelhar sua filosofia de vida. Por que você deixaria este aspecto tão importante de fora da sua obra?

Livro consultado enquanto escrevia este post:
Polking, Kirk. Writing A to Z. Cincinnati: Writer’s Digest Books, 1992.

escrito por
Patricia