Tendo como pano de fundo os bastidores da música erudita, o 5º romance de Patricia Melo, Valsa Negra, conta a estória de um prestigiado maestro (cujo nome não sabemos) e seu turbulento romance com Marie, violinista de sua orquestra com quem ele se casou, e que é trinta anos mais jovem do que ele.

Como já li outros livros de Patricia Melo que gostei bastante, confesso que tinha expectativas quanto a este, expectativas que não foram correspondidas. Um dos problemas, acredito eu, é o livro ser narrado em 1ª pessoa pelo maestro, nos obrigando assim a ficar dentro da cabeça deste sujeito, um doente cujo ciúme e a insegurança o consomem, e seu narcisismo crônico que o impede de ver qualquer coisa que não seja Marie, durante TODO livro.
Ele não consegue formar conexões reais com as pessoas ao seu redor, nem mesmo com sua filha. Talvez com a vizinha de prédio, Rachel, mas a maneira como a autora escreveu esta relação foi ambígua, então não tenho certeza se houve uma conexão, ou aquilo era apenas uma folga das neuras do maestro para nós, leitores.
Enfim, somos levados por esse mente fraca durante sua jornada pelo casamento com sua amada, e devemos ficar no “suspense” se, no final, ele vai conseguir superar sua doença ou se a doença o vai consumir.
O livro toca ainda em tópicos como psicanálise, judaísmo, crise no Oriente Médio e a vida e neuras de habitar uma cidade como São Paulo.
Patricia Melo sabe escrever bem, disso não tenho dúvida, mas o protagonista é chato, enfadonho, narcisista e como não temos a oportunidade de conhecer os outros personagens além dos retalhos que passam pela vida/vista do maestro (lembre-se, tudo em 1ª pessoa), tudo fica muito over.
Entendo que a idéia aqui foi “habitar” a cabeça deste sujeito e ver o mundo pelo seus olhos, mas o problema de estar dentro da cabeça de alguém tão doente é que mesmo quando ele parece fazer mínimas coisas para se redimir, nós sabemos que não é verdade, e é muito osso ler um livro assim.
Penso que se o livro fosse narrado na 3ª pessoa, nós os leitores poderíamos nos envolver mais na narrativa e nos coadjuvantes. Personagens maquiavélicos, mesmo quando inconscientes de sua maldade, são divertidos de ler, pois representam uma face humana que raramente vemos. Além do que a 3ª pessoa renderia outras emoções ao leitor do que apenas a repugnância que senti por ele durante toda leitura.
Sim, porque esse é um dos grandes problemas do livro na minha opinião: para o leitor este é um livro de uma emoção só.
Li que a construção do “suspense” (a sucessão de neuras e suspeitas do maestro) foi escrita para emular a evolução musical de um concerto, mas infelizmente a escalada de ações termina da pior forma possível: sem uma apoteose.
É um daqueles livros onde o protagonista não muda, segue a 120km/h ao encontro de um muro, mas ao se aproximar do tal muro a autora deixa por conta do leitor o que fazer com ele. Vai se esborrachar no muro, ou vai desviar a tempo? Você decide, leitor. Sim, este é um daqueles livros que não tem clímax.
Definitivamente não recomendo.
ps.: quando terminei o livro descobri que o marido da Patricia Melo é o maestro John Neschling, o que explica a excelente ambientação do livro.
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